Certamente você já se perguntou o que anda fazendo da sua vida. Incontáveis vezes já deve ter feito essa pergunta a si mesmo, isso sem mencionar às vezes em que leva em conta a vida de outras pessoas. Mas por hora vamos falar da nossa própria fotografia. Aquela em que registramos nossa história, nossos momentos, aqueles que estamos imprimindo e guardando em nosso álbum autobiográfico. Quando olhamos as fotografias do início de nossas vidas muitas recordações cheias de saudosismo virão. Nossa infância cercada de brincadeiras com irmãos, amigos e primos, cheiros e sabores das comidas deliciosas de nossas mães e avós, descobertas que pareciam descortinar um novo mundo a cada dia, algumas quedas, machucados, broncas, perdas e lágrimas, mas tudo isso acompanhado de um largo sorriso que só a infância é capaz de trazer.
Algumas páginas a frente encontramos fotografias da nossa adolescência e juventude. Ah que delícia. Quanta energia e vontade de crescer. Imagens que trazem inúmeros amigos, muitos sonhos, paixões fugazes, professores inesquecíveis, trabalhos e provas escolares que nem sempre mereciam a nota obtida, finais de semana e férias que deveriam durar para sempre. As primeiras decepções e decisões. O início da consciência da conseqüência. E as indagações começam a surgir com as últimas fotos dessa fase: “e se eu tivesse feito isso e não aquilo”; “e se eu tivesse escolhido outro caminho”. E se...
As fotos do amadurecimento surgem então a nos mostrar o resultado de nossas escolhas. O que acertamos e o que erramos. Os passos que demos e onde nos levaram. E neste ponto é inevitável refletirmos: “o que tenho feito de minha vida”; “para onde estou caminhando”; “estou nadando contra a correnteza ou estou a favor dela”. Aliás, nestes questionamentos é importante nos lembrarmos que a correnteza existe, mas em grande parte a fazemos mais forte ou mais fraca e por vezes temos o poder de mudar o curso do rio e transformá-la por completo. Podemos fazer curvas e seguir reto, subir e descer montanhas, cortar matas e atravessar cidades, fixar imagem no mapa ou desaparecer por completo após nossa passagem. É claro que não podemos controlar as tempestades de chuva e ventos fortes e nem mesmo os períodos de seca. Não podemos evitar que pedras rolem até nosso leito ou que toneladas de lixo sejam jogadas sobre nós. Porém, podemos escolher como iremos nos comportar durante e, principalmente, após essas intempéries. Podemos decidir se iremos apenas elevar nosso nível durante as cheias sem causar destruição ou iremos transbordar e arrasar com tudo a nossa volta. Temos sim o poder de transformar nossas águas em doces e límpidos espelhos ou carregar impurezas que nos tornarão turvos e de gosto amargos e, sobretudo, podemos decidir se queremos ser afluentes ou desaguar no mar.
Todas as decisões que diariamente tomamos e que deixamos sob uma maior ou menor influência exterior, quer sejam das circunstâncias, da participação de pessoas, de nosso repertório de vida, ou, ainda, de tudo isso junto, vão certamente compor as fotografias do nosso dia-a-dia. Contudo, cabe ao fotógrafo decidir o momento e o melhor ângulo para capturar a imagem desejada. Cabe agora tomar a decisão mais importante de todas: assumir a missão de apertar o botão disparador da nossa máquina ou delegarmos essa função a outrem e ao acaso.
Encontro de Formas