Esta é mesmo uma época do ano em que gentilezas e generosidades ficam mais evidentes e suscetíveis a acontecer a qualquer momento. Parece que o clima de oferecer presentes traz a tona um sentimento de presteza maior, de olhares mais condescendentes, de gestos mais suaves e sorrisos mais abertos. Será que tudo isso acontece porque a certeza da reciprocidade é maior ou verdadeiramente o espírito de doação aflora com mais intensidade em virtude da essência do Natal. Como eu gostaria que a segunda alternativa fosse a correta e na batalha entre substantivos femininos, a doação vencesse a reciprocidade.
Imagine uma noite de véspera de Natal em sua casa em que você abrisse mão e fizesse questão de não ganhar nenhum presente e sua única atribuição no momento da entrega de presentes fosse dirigir-se a cada pessoa oferecer seu presente e fotografar a reação de cada um ao abrir o embrulho. Com certeza ao rever essas mesmas fotos, meses ou anos depois, você saberia descrever exatamente a reação de cada um. Sim porque naquele momento você não teve nenhuma preocupação em também abrir seus pacotes e não perdeu o momento mágico do sorriso de contentamento.
Talvez por isso a doação seja tão mais prazerosa que a troca, porque faz parte da sua definição: transmitir gratuitamente; e não: querer, esperar ou intencionar algo em troca. E quero ir além da doação de objetos novos ou usados, da doação de tempo e trabalho em prol de outros. Quero passar pelos pequenos gestos de cumprimentar, ceder a vez, ligar, prestar atenção, ouvir, e afagar. Calar-se ao invés de maldizer quando não se tem nada melhor para falar, ir ao encontro, enviar bons pensamentos e oferecer preces fervorosas. Muito mais do que mudar o seu dia, o seu mundo ou a sua vida, coisas assim tornam o dia, o mundo e a vida do outro um lugar no mínimo mais leve e confortável. E esse é o verdadeiro espírito do presente, d(o)ar e esperar apenas a felicidade do presenteado como “pagamento”.